domingo, 7 de março de 2010

VINÍCIUS DE MORAES

     Na tempestuosa madrugada de 19 de outubro de 1913, nascia o garoto Vinicius. A grafia está correta. Seu pai, Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, um apaixonado pelo latim, dera a ele este nome. Naquela noite nascia na Gávea, o futuro garoto de Ipanema.
     Escreveu seu primeiro poema de amor aos 9 anos, inspirado em uma colega de escola que reencontraria 56 anos depois. Seus amores eram sua inspiração. Oficialmente, teve nove mulheres: Tati (com quem teve Susana e Pedro), Regina Pederneiras, Lila Bôscoli (mãe de Georgina e Luciana), Maria Lúcia Proença (seu amor maior, musa inspiradora de Para viver um grande amor), Nelita, Cristina Gurjão (mãe de Maria), a baiana Gesse Gessy, a argentina Marta Ibañez e, por último, Gilda Mattoso. Mulherengo? Não, “mulherólogo”, como ele costumava se definir.
     Tati, a primeira, única com quem casou no civil, é a inspiradora dos famosos versos “Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja imortal enquanto dure”. Deixou-a para viver com Regina Pederneiras. O romance durou um ano, depois do que ele voltou com Tati para deixá-la, definitivamente, em 1956 e casar com Lila, então com 19 anos, irmã de Ronaldo Bôscoli. Foi nessa época que o poeta conheceu Tom Jobim e o convidou para musicar sua peça Orfeu da Conceição. Desta parceria, surgiriam músicas símbolos da Bossa Nova como Chega de Saudade e Garota de Ipanema, feita para Helô Pinheiro, então uma garotinha de 15 anos que passava sempre pelo bar onde os dois bebiam. No ano seguinte, 1957, se casaria com Lucinha Proença depois de oito meses de amor escondido, afinal, ambos eram casados. A paixão durou até 1963. Foi pelos jornais que Lucinha, já separada, soube da ida de Vinícius para a Europa “com seu novo amor”, Nelita, 30 anos mais jovem. Minha namorada, outro grande sucesso, foi inspirado nela.
     Em 1966, seria a vez de Cristina Gurjão, 26 anos mais jovem e com três filhos. Com Vinícius teve mais uma, Maria, em 1968. Quando estava no quinto mês de gravidez, Vinícius conheceu aquela viria a ser sua próxima esposa, Gesse Gessy. No segundo semestre de 69 começa sua parceria com Toquinho. No dia de seu aniversário de 57 anos, em 1970, em sua casa em Itapuã, Vinícius transformaria Gesse Gessy, então com 31 anos, em sua sétima esposa. Gesse seria diferente das outras e comandaria a vida de Vinícius com bem entendesse. Em 1975, já separado dela, ele se declara apaixonado por Marta Ibañez, uma poeta argentina. No ano seguinte se casariam. Ele tinha quase 40 anos mais que ela.
     Em 1972, a estudante de Letras Gilda Mattoso conseguiu um autógrafo do astro Vinícius após um show para estudantes da UFF, em Niterói (RJ). Quatro anos depois o amor se concretizaria. O poeta , já sessentão; ela, com 23 anos.
     Na noite de 8 de julho de 1980, acertando detalhes das canções do LP Arca de Noé com Toquinho, Vinícius, já cansado, disse que iria tomar um banho. Toquinho foi dormir. Pela manhã foi acordado pela empregada que encontrara Vinícius na banheira com dificuldades para respirar. Toquinho correu para o banheiro, seguido de Gilda. Não houve tempo para socorrê-lo. Vinícius de Moares morria na manhã de 9 de julho. No enterro, abraçada a Elis Regina, Gilda lembrava da noite anterior, quando em uma entrevista, perguntaram ao poeta: “Você está com medo da morte?”. E Vinícius, placidamente, respondeu: “Não, meu filho. Eu não estou com medo da morte. Estou é com saudades da vida”.

RAUL SEIXAS

Raul Santos Seixas nasceu em Salvador, Bahia, no dia 28 de junho de 1945. Era o primeiro de dois filhos do casal Raul Varella Seixas, engenheiro, e Maria Eugênio Santos Seixas, dona de casa. O baiano foi batizado e estudou em colégios católicos, incluindo o Marista. Repetiu várias vezes algumas séries do primeiro grau. Um dos motivos, no final dos anos 50, era porque matava aulas para ficar ouvindo Rock’n’Roll na loja Cantinho da Música. Em julho de 59, funda o Elvis Rock Club.
     Em 1962, monta o Relâmpagos do Rock, seu primeiro grupo musical. No ano seguinte, o nome do grupo muda para The Panters e Raul consegue passar para a quarta série ginasial. Em 64, se tornariam o grupo mais caro de Salvador. Ficam conhecidos na Bahia, fazendo shows em várias cidades. Raul desiste dos estudos e se profissionaliza. Dois anos depois conhece a americana Edith Wisner, filha de um partor. Atendo um pedido dos pais e da própria Edith, Raul promete deixar a vida de artista e retormar os estudos. Presta vestibular para Direito e passa entre os primeiros colocados. Em 67, casa-se com Edith. Dá aulas de violão e inglês e tenta estudar Psicologia. Jerry Adriani o convida para acompanhá-lo em sua turnê pelo Norte do país. Raul reúne Os Panteras e acabam todos indo para o Rio de Janeiro. Em 1968 é lançado o primeiro LP, Raulzito e Os Panteras.
     O segundo LP, Sociedade do Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez, é produzido e lançado,em 1971, sem autorização. O disco some misteriosamente do mercado e Raul é expulso da CBS. Em 73, conhece Paulo Coelho, com quem viria a fazer uma das maiores parcerias do rock brasileiro. A dupla é responsável por sucessos como Gita, Sociedade Alternativa, Como vovó já dizia, dentre outros. Com Gita, em 74, ganha o disco de ouro e lança o primeiro musical colorido da TV Globo. Separa-se de Edith e, no ano seguinte, casa-se com oura americana, Glória Vaquer, com que ficaria até 1977. Teve uma filha com cada uma. Após as separações, ambas levaram as filhas para os Estados Unidos.
     Os sucessos se sucedem com os LPs Novo Aeon e Há dez mil anos atrás, ambos em 1975, quando também termina a parceria com Paulo Coelho. Depois vieram O dia em que a Terra parou (1977), Mata virgem (1978), Por quem os sinos dobram (1979) e Abre-te Sésamo (1979), este último com a censurada Rock das Aranhas. Em 79, conhece Angela Maria Affonso Costa, que seria a mãe de sua terceira filha (1981).
     Raul protagonizou histórias antológicas durante toda sua carreira. Uma delas é quase inacreditável. Em maio de 1982, foi tido como impostor de si mesmo num show em Caieiras, São Paulo. Não tinha nenhum documento e quase foi linchado. Preso, foi espancado pelo delegado e por policiais. Em 1983, lança um LP com seu nome e o livro As aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor. Ganha seu segundo disco de ouro e novos sucessos aparecem. Em 84, participa do especial Plunct Plact Zum, na Rede Globo, e lança o LP Metrô Linha 743. Mais alguns lançamentos e uma certa dificuldade de manter a produção estável por problemas de saúde se sucedem até 1987, quando grava o LP Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! e ganha seu terceiro disco de ouro. É nesse ano que começa um parceria com o também baiano Marcelo Nova, vocalista da banda Camisa de Vênus, ao participar da música Muita Estrela, Pouca Constelação. A parceria teria seu auge em 89, quando os dois gravam o LP A Panela do Diabo e fazem uma série de mais de 50 shows pelo país. O LP é lançado no dia 19 de agosto. Raul morreu dois dias depois, sozinho, em São Paulo.

MONTEIRO LOBATO

Sou da “geração de transição”. Da última que leu, costumo dizer. Logo depois, os livros deram lugar à televisão no lugar de “educadora”.
     Tenho uma sorte dupla. Li todo o Sítio duas ou três vezes ainda muito pequeno e, logo em seguida, quando a TV brasileira costumava apresentar uma programação de nível, tive o prazer de ver na telinha a turma do Sítio do Picapau Amarelo.
     Vinte anos depois, chegou a vez de dizer obrigado a Lobato pela riqueza de minha infância.
     Que este site faça as vezes do Pó de Pirlimpimpim e leve muitas crianças - as pequenas e as já crescidas - ao maravilhoso mundo de nosso mais importante escritor de literatura infantil.
Sandro Fortunato

No dia 18 de abril de 1882, nascia em Taubaté, no estado de São Paulo, um garoto que se tornaria o mais importante escritor de literatura infantil do país. Naquele tempo não existia televisão. Não existia nem cinema, nem automóvel. Naquele ano estavam surgindo o ferro e o ventilador elétrico. Era uma época em que as crianças eram crianças e agiam como tal.
     José Renato Monteiro Lobato, filho de José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Augusto Lobato, como as demais crianças da época, inventava brinquedos com sabugos de milho, chuchus, mamão verde, panos e materiais desse tipo. Juca – como era chamado – brincava com suas irmãs mais novas, Ester e Judite. Adorava os livros de seu avô materno, o Visconde de Tremembé. Mais tarde, em 1893, mudaria seu nome para José Bento Monteiro Lobato, por desejar usar uma bengala do pai gravada com as iniciais J.B.M.L.
     Alfabetizado pela mãe, teve depois um professor particular e somente aos sete anos, em 1889, ingressou no Colégio Kennedy. Leu tudo o que havia para crianças em língua portuguesa. Em 1895 vai para São Paulo e presta exames no Curso Anexo, com intenção de se preparar para a Faculdade de Direito, mas retorna a Taubaté por ter sido reprovado em português. Em dezembro do ano seguinte presta novos exames em São Paulo.
     Em 1898, aos dezesseis anos, perde seu pai e, no ano seguinte, sua mãe. Seu avô materno, o Visconde de Tremembé assume a tutela das três crianças. Ainda no colégio, funda vários jornais e escreve sob pseudônimo. Aos 18 anos pretende entrar para a Escola de Belas-Artes mas, por imposição do avô, entra para a Faculdade de Direito.
     Forma-se em 1904 e em maio de 1907 é nomeado promotor em Areias. No ano seguinte casa-se com Maria Pureza da Natividade, a Purezinha, com quem teve os filhos Edgar, Guilherme, Marta e Rute.
     Passa a residir no interior, em cidades pequenas, sempre escrevendo e mandando caricaturas e desenhos para jornais e revistas. Em 1911, com a morte do avô, herda a fazenda de São José de Buquira para onde se muda com a família. Lá, escreve o personagem que viria a se tornar símbolo nacional: o Jeca Tatu.
     Seis anos depois, promoveu uma pesquisa de opinião sobre o Saci, no jornal O Estado de São Paulo. A pesquisa faria aparecer seu primeiro livro, O Saci-Pererê: resultado de um inquérito, lançado no início do ano seguinte. Ainda em 1917, as geadas e outras dificuldades o fazem vender a fazenda e ir morar em Caçapava. Com a publicação, em 20 de dezembro, do artigo A propósito da exposição Malfatti, onde critica a mostra de pintura moderna da artista, inicia-se a famosa polêmica com os modernistas.
     Após sua estréia como escritor, compra a Revista do Brasil e começa a editar seus livros para adultos. Surge então a Monteiro Lobato & Cia., primeira editora nacional. Até então os livros do Brasil eram impressos em Portugal.
     No Natal de 1920, lança seu primeiro livro infantil: A Menina do Narizinho Arrebitado, que no ano seguinte teria uma edição de 50 mil exemplares e seria adotado pelo governo de São Paulo como livro de leitura obrigatória para o primeiro grau. Sua editora cresce e, em 1924, Lobato monta o maior parque gráfico da América Latina.
     Em 1925, após enfrentar dificuldades, fecha a editora e constitui, no Rio de Janeiro, a Cia. Editora Nacional com outros dez sócios. Dois anos depois é nomeado adido comercial no Consulado do Brasil nos Estados Unidos. Em 1930, após a revolução que destituiu o presidente Washington Luís, Lobato é exonerado e retorna ao país no ano seguinte, pregando a redenção e desenvolvimento do Brasil pela exploração de ferro e do petróleo.
     Começa, então, a luta que o deixará pobre, doente e desgostoso. Foi perseguido, preso e criticado por dizer que no Brasil havia petróleo, contrariando, assim, o interesse oficial.
     Retorna à literatura infantil, desgostoso dos adultos que o perseguem por suas idéias. Em 1933 lança História do Mundo para Crianças, que provoca reações e censura da Igreja. Em novembro de 1934, Getúlio Vargas lhe oferece a direção do Departamento de Difusão Cultural. Lobato rejeita e nos anos seguintes denunciaria o Departamento Nacional de Produção Mineral e o Conselho Nacional de Petróleo. Em 1941 é preso duas vezes. Indultado por Vargas, ganha a liberdade sob censura e a imprensa é proibida de anunciar o acontecimento.
     Em 1946, torna-se sócio da editora Brasiliense, fundada três anos antes. Em junho, muda-se para a Argentina e lá funda a Editorial Acteon. No ano seguinte volta ao Brasil e transforma Jeca Tatu em vítima do latifúndio.
     Monteiro Lobato morreu na madrugada do dia 4 de julho de 1948, aos 66 anos, em São Paulo, vitimado por um derrame.