domingo, 7 de março de 2010

MONTEIRO LOBATO

Sou da “geração de transição”. Da última que leu, costumo dizer. Logo depois, os livros deram lugar à televisão no lugar de “educadora”.
     Tenho uma sorte dupla. Li todo o Sítio duas ou três vezes ainda muito pequeno e, logo em seguida, quando a TV brasileira costumava apresentar uma programação de nível, tive o prazer de ver na telinha a turma do Sítio do Picapau Amarelo.
     Vinte anos depois, chegou a vez de dizer obrigado a Lobato pela riqueza de minha infância.
     Que este site faça as vezes do Pó de Pirlimpimpim e leve muitas crianças - as pequenas e as já crescidas - ao maravilhoso mundo de nosso mais importante escritor de literatura infantil.
Sandro Fortunato

No dia 18 de abril de 1882, nascia em Taubaté, no estado de São Paulo, um garoto que se tornaria o mais importante escritor de literatura infantil do país. Naquele tempo não existia televisão. Não existia nem cinema, nem automóvel. Naquele ano estavam surgindo o ferro e o ventilador elétrico. Era uma época em que as crianças eram crianças e agiam como tal.
     José Renato Monteiro Lobato, filho de José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Augusto Lobato, como as demais crianças da época, inventava brinquedos com sabugos de milho, chuchus, mamão verde, panos e materiais desse tipo. Juca – como era chamado – brincava com suas irmãs mais novas, Ester e Judite. Adorava os livros de seu avô materno, o Visconde de Tremembé. Mais tarde, em 1893, mudaria seu nome para José Bento Monteiro Lobato, por desejar usar uma bengala do pai gravada com as iniciais J.B.M.L.
     Alfabetizado pela mãe, teve depois um professor particular e somente aos sete anos, em 1889, ingressou no Colégio Kennedy. Leu tudo o que havia para crianças em língua portuguesa. Em 1895 vai para São Paulo e presta exames no Curso Anexo, com intenção de se preparar para a Faculdade de Direito, mas retorna a Taubaté por ter sido reprovado em português. Em dezembro do ano seguinte presta novos exames em São Paulo.
     Em 1898, aos dezesseis anos, perde seu pai e, no ano seguinte, sua mãe. Seu avô materno, o Visconde de Tremembé assume a tutela das três crianças. Ainda no colégio, funda vários jornais e escreve sob pseudônimo. Aos 18 anos pretende entrar para a Escola de Belas-Artes mas, por imposição do avô, entra para a Faculdade de Direito.
     Forma-se em 1904 e em maio de 1907 é nomeado promotor em Areias. No ano seguinte casa-se com Maria Pureza da Natividade, a Purezinha, com quem teve os filhos Edgar, Guilherme, Marta e Rute.
     Passa a residir no interior, em cidades pequenas, sempre escrevendo e mandando caricaturas e desenhos para jornais e revistas. Em 1911, com a morte do avô, herda a fazenda de São José de Buquira para onde se muda com a família. Lá, escreve o personagem que viria a se tornar símbolo nacional: o Jeca Tatu.
     Seis anos depois, promoveu uma pesquisa de opinião sobre o Saci, no jornal O Estado de São Paulo. A pesquisa faria aparecer seu primeiro livro, O Saci-Pererê: resultado de um inquérito, lançado no início do ano seguinte. Ainda em 1917, as geadas e outras dificuldades o fazem vender a fazenda e ir morar em Caçapava. Com a publicação, em 20 de dezembro, do artigo A propósito da exposição Malfatti, onde critica a mostra de pintura moderna da artista, inicia-se a famosa polêmica com os modernistas.
     Após sua estréia como escritor, compra a Revista do Brasil e começa a editar seus livros para adultos. Surge então a Monteiro Lobato & Cia., primeira editora nacional. Até então os livros do Brasil eram impressos em Portugal.
     No Natal de 1920, lança seu primeiro livro infantil: A Menina do Narizinho Arrebitado, que no ano seguinte teria uma edição de 50 mil exemplares e seria adotado pelo governo de São Paulo como livro de leitura obrigatória para o primeiro grau. Sua editora cresce e, em 1924, Lobato monta o maior parque gráfico da América Latina.
     Em 1925, após enfrentar dificuldades, fecha a editora e constitui, no Rio de Janeiro, a Cia. Editora Nacional com outros dez sócios. Dois anos depois é nomeado adido comercial no Consulado do Brasil nos Estados Unidos. Em 1930, após a revolução que destituiu o presidente Washington Luís, Lobato é exonerado e retorna ao país no ano seguinte, pregando a redenção e desenvolvimento do Brasil pela exploração de ferro e do petróleo.
     Começa, então, a luta que o deixará pobre, doente e desgostoso. Foi perseguido, preso e criticado por dizer que no Brasil havia petróleo, contrariando, assim, o interesse oficial.
     Retorna à literatura infantil, desgostoso dos adultos que o perseguem por suas idéias. Em 1933 lança História do Mundo para Crianças, que provoca reações e censura da Igreja. Em novembro de 1934, Getúlio Vargas lhe oferece a direção do Departamento de Difusão Cultural. Lobato rejeita e nos anos seguintes denunciaria o Departamento Nacional de Produção Mineral e o Conselho Nacional de Petróleo. Em 1941 é preso duas vezes. Indultado por Vargas, ganha a liberdade sob censura e a imprensa é proibida de anunciar o acontecimento.
     Em 1946, torna-se sócio da editora Brasiliense, fundada três anos antes. Em junho, muda-se para a Argentina e lá funda a Editorial Acteon. No ano seguinte volta ao Brasil e transforma Jeca Tatu em vítima do latifúndio.
     Monteiro Lobato morreu na madrugada do dia 4 de julho de 1948, aos 66 anos, em São Paulo, vitimado por um derrame.

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